sábado, 19 de dezembro de 2009

I'm Alive!

Sim! Estou viva e bem, diga-se de passagem.
Bom, como faz muito tempo que não dou notícias, tenho muito a contar.
Após quase nos matarmos de tanto fumar pedra, eu e o Rock decidimos parar com isso e sair de Porto Alegre. Este era, afinal, o ambiente que nos estragava por conhecê-la tão bem. Nossos planos, como poucos sabiam, eram ir caminhando até Santa Catarina - já que meu pai havia se negado a nos ajudar devido aos acontecimentos anteriores - com algumas mochilas nas costas, muita boa vontade e nada de dinheiro... Grande novidade: não chegamos até lá. Mas, até que fomos bem longe para quem não tinha nada além de muito amor e muito peso nas costas.
Cinco dias após nossa saída de POA, chegamos em Pinhal. Durante todo caminho, não passamos fome um só dia, afinal sempre encontrávamos pessoas bondosas dispostas a nos ajudar com um pedaço de pão que fosse. Encontrávamos abrigo em qualquer parada de ônibus pelo caminho. Os primeiros dias foram os piores pois, como alguns devem lembrar, não parava de chover. Não sei como não morremos congelados com o frio e a chuva no segundo dia...
Mas, assim como à chuva, sobrevivemos à estrada e a outras pedras pelo caminho. Conhecemos muita gente - principalmente que não prestava - e aprendemos muito pelo caminho. Após a chegada em Pinhal, tivemos nosso primeiro encontro com alguma força policial: a polícia rodoviária. Eles conversaram conosco um pouco e depois nos deixaram ir. No dia seguinte, fomos ao ferro-velho vender as latinhas que decidimos catar pelo caminho e tivemos um encontro com um brigadiano. Ele não parecia muito feliz, mas nos deixou ir. Assim que ele se foi, compramos um pouco de maconha com o dinheiro que conseguimos. Voltamos para a beira da praia, fumamos nosso beck e, mesmo com o frio e a ausência do sol, nos atiramos no mar. Continuamos nossa caminhada e chegamos em cidreira. Mais uma noite chuvosa. No dia seguinte, seguimos para Tramandaí. Desde nossa saída de POA, não havíamos pego uma só carona... até um pedaço das dunas em Cidreira. Foi a primeira e única carona que pegamos pelo caminho. Ainda acho que foi um milagre pois, cinco segundos após termos entrado no carro, começou a chover novamente. Ele nos largou no final de Nova Tramandaí pois tinha de ir a Porto Alegre e ali ficamos até a chuva passar um pouco. Mesmo não tendo parado seguimos, na chuva, até o centro da cidade. Não havia comentado antes, mas desde antes de Capivari do Sul, estávamos com um malabarista que encontramos. Como eu havia conseguido comida durante o caminho inteiro, em Tramandaí foi a vez dele. Como tinha sinaleiras, ele pode trabalhar. Conseguia, em média, uns vinte reais em uma hora num sinal. Como ele era meio preguiçoso, não conseguia muito mais que isso por dia; era o suficiente para comprarmos comida para o almoço e janta; de vez em quando, até para maconha. Numa noite, eu e o Rock saímos rumo ao centro para conseguir mais latas e, de repente, comida. Num posto de gasolina, fizemos amizade com um cara que simpatizava com punks e nos comprou várias cervejas. Eu, como alguns sabem, não consigo mais beber cerveja mas, naquela noite, nunca bebi com tanto gosto. Ele nos convidou para darmos uma volta de carro. Com isso, ele nos comprou um sabão de glicerina para levantarmos os moicanos e nos levou até a banca da Record, onde estávamos dormindo. Chegando lá, decidiu fumar um beck com nós; uma bomba, diga-se de passagem. Após terminarmos esta, ele resolveu fechar outra. Após fumarmos esta segunda bomba, ele decidiu ir embora e, como o Rock havia - propositalmente - esquecido do sabão no carro, o cara nos deu mais um tanto de maconha para fumarmos depois. Acho que, uns dez minutos após a saída dele, apareceu outro cara perguntando se sabíamos onde havia um lugar bom para se fumar um beck. Rapidamente, lhe dissemos que poderia fumar ali mesmo. Então, fumamos mais uma bomba. Assim como ele apareceu, ele desapareceu. Completamente chapados, dormimos tranquilamenteç eu, principalmente. Fazia muito tempo desde a última vez em que quase desmaiei de tanta maconha. No dia seguinte, o malabarista que estava com nós resolveu se separar de nós e ir para Capão da Canoa pois achava que eu estava tratando ele como um empregado na noite anterior. Não lembro exatamente o que eu fiz para fazê-lo pensar isso, mas foi bom ele ter ido pois havia voltado a fumar pedra. Ele não falou, mas reconhecemos os sinais. Ficamos mais uns dias em Tramandaí. Numa tarde, um velho pedreiro - que havíamos encontrado no primeiro dia lá - me achou enquanto o Rock perambulava pelas ruas da cidade atrás de mais latas. Quase que telepaticamente, o Rock voltou logo para me proteger daquele verme. No mesmo dia em que o encontramos, conhecemos o Assis, um velho gay que havia se interessado no Rock e nos convidou para dormir na casa dele. Nos separamos do velho rapidamente e fomos para a casa do Assis. Fazia muito tempo em que não tomávamos um banho quente e não dormíamos num colchão. Apesar de termos que entrar e sair às escondidas, dormimos lá mais uma noite. O chamariz dele era o álcool que, para o Rock, era o suficiente. Como ele havia dito que no dia seguinte não poderíamos dormir lá, decidimos ficar pelo centro e acabamos encontrando uns punks de Capão. Passamos a noite com eles e, ao ir procurar um local para dormir, tivemos nossa briga mais séria e louca. Estávamos ambos bêbados e brigamos por bobagem, mas o Rock quase se atirou no mar para não voltar mais, e eu saí em direção ao centro da cidade encharcada e de meias... Após um ir atrás do outro, nos entendemos e não nos separamos mais. Gostaria de saber o que se passou pelas cabeças dos nossos amigos ao ver aquele teatro inacreditavelmente insano. Na manhã seguinte, nossos amigos foram embora e encontramos um Exu de Caxias e um velho bêbado de não-lembro-onde. Após muita cachaça, o ambiente pesou com dois Exus juntos. O Exu incorporou alguma coisa e eu realmente não gostei. Após almoçarmos, eu e o velho dormimos - cada um num canto - e o Rock e o Exu saíram. Acordei com o cara da outra noite, aparecendo como da outra vez - do nada - atrás de mim e do Rock para fumarmos um beck. Como o Rock não estava lá ainda, eu e ele fumamos sozinhos. Como ele era gay, ficamos conversando um tempão sobre tudo quanto era coisa, mas principalmente papo de mulher. Como da outra vez, após fumarmos, ele saiu novamente, desaparecendo em meio ao forte vento e a maresia que circulava. Pouco tempo após a sua saída, eles voltaram. O Exu, com um monte de coisas roubadas. Não demorou muito para resolvermos nos separar deles e irmos para bem longe. Nesse meio-tempo, já havíamos nos livrado de um terço do peso que carregávamos. À noite, no centro, encontramos o Zumbi, um amigo do Rock, no posto e decidimos que íamos dormir na casa dele. Mais tarde, encontramos o Assis e descobrimos que todos nós o conhecíamos e o Zumbi o convenceu a nos deixar dormir na casa dele. Apesar de ter dito que teríamos de acordar as 6h da manhã ou só sair no fim da tarde, ele nos acordou lá pelas dez da manhã e nos mandou embora. Perambulamos um pouco pela cidade e fomos para a casa do Zumbi. Lá, fiz duas tatuagens no Zumbi e uma no Rock. Após uma saída durante a tarde, os dois voltaram bêbados e o patrão do Zumbi, onde estávamos, mandou ele ir embora quando amanhecesse. À noite, saímos a passear pelo centro para comer e decidimos ir para Capão da Canoa no dia seguinte. Às 6h da manhã do dia seguinte, o Chileno nos acordou. Com todo nosso bom humor e boa vontade, arrumamos nossas coisas, deixamos a casa numa bagunça e saímos. Umas duas quadras depois, decidimos nos livrar de mais coisas e acabamos, cada um, com apenas uma mochila. Em uns dois dias, chegamos a Capão. Não duramos dois dias lá. No primeiro dia, bebemos muito e o Rock e o Zumbi acabaram brigando. Com isso, eu acabei brigando com o Rock, dando um soco na cara dele e quase fazendo com que terminássemos nosso namoro. Felizmente, corri atrás dele e impedi que ele fizesse alguma bobagem, me desculpei e consegui acalmar ele um pouco. Voltamos para pegar nossas coisas e o Zumbi havia sumido. Ele havia escondido algumas coisas e pego o material de tattoo. Com isso, o Rock acionou a brigada. Após o encontrarmos, metermos medo nele e ele ter devolvido nossas coisas, a brigada apareceu, e eu descobbri que estava desaparecida. He he he. Decidiram que tinham que me levar até a delegacia, mas não queriam levar o Rock junto no carro. Em menos de cinco minutos, eles se convenceram que era melhor levá-lo junto antes que fizesse alguma merda. Conversei com delegado (ou seja lá o que fosse), expliquei toda situação, ele retirou a queixa e nos liberou. O Rock ainda pretendia se separar de mim, mas após muita choradeira e conversa, nos entendemos e saímos à procura de um local coberto para dormir. De manhã, acordamos tarde, o Rock brincou um pouco com uma cobra que brigava com pássaros no outro lado da rua e decidimos ir achar algo para comer. Nisso, encontramos o Zumbi, que estava morrendo de medo de andar sozinho por Capão e veio até nós mostrando as melhores das intenções. Ao ligar para a mãe do Rock, descobrimos que teríamos de voltar e que meu pai ou minha madrasta viriam nos buscar. Com isso, o Zumbi resolveu ir até a assistente social ver se conseguia passagem de volta para POA. Como ele não queria ir sozinho, foi com o Rock e os dois deixaram todas as coisas comigo. Em menos de cinco minutos após a saída deles, vieram três brigadianos ao meu encontro e me levaram para a delegacia por estar desaparecida novamente.
Meu recorde: andar de viatura e ir parara na delegacia duas vezes em menos de 12 horas.
Fiquei totalmente preocupada com o fato de o Rock não saber onde eu estava, mas ele me achou. Tive uma conversa com meu pai e descobri que tinha duas opções: ser internada numa clínica em São Francisco, ou ser internada numa clínica em São Francisco. Então, decidi ir de boa vontade. Enquanto isso, o Rock iria para Porto Alegre ser internado lá. Aproveitamos a vinda do meu pai para, pelo menos, almoçarmos decentemente. Acho que nunca havia comido tanto em minha vida. Desde que estávamos em Tramandaí, começamos a suspeitar que eu estava grávida. Então, assim que consegui ficar são na clínica, pedi para que fizessem um teste. Estou gravidíssima! Agora, já estou com uns dois meses. Já estou há pouco mais de três semanas na clínica. Fiz muitas amizades, leio bastante, já estou abominando a comida e quase esgoelando uma de minhas colegas de quarto. Felizmente, é possível que eu saia antes do ano acabar.

Amanhã, finalmente verei meu amor e depois, voltarei para a clínica...

Mais notícias quando conseguir.

Kisses! ;*

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